Historicamente, os anos 50 ficaram marcados como os anos do “pós-guerra”, o que significou o fim da escassez de bens de consumo em geral. A seguinte análise tem como objetivo mostrar o panorama da sociedade nos anos 50 e a relação da juventude com essa sociedade valorizadora de seu passado. A partir daí, iniciaremos nossa análise mostrando a tradição em construção. Adiantamos que é uma juventude que inicia seus movimentos de contestação direta, através de um comportamento, e que essa mesma juventude está em formação, que se dará completa em Maio de 68. Optamos analisar o comportamento, desde suas vestimentas até a mudança do imaginário que estes jovens possuíam.
Chama-se de “Anos dourados” o período que focaliza essa análise. Seu início se dá no fim da 2ª Guerra Mundial e perpassa boa parte do período da Guerra Fria. Conceitualmente, é caracterizada por representar uma vitrine da boa vida diante do mundo atrasado e vermelho da União Soviética. É um retorno a um período de estabilidade, onde a tradição volta a ser aplicada. Focalizando nosso estudo no espaço estadunidense, percebemos a (re)construção do “American Dream”. Reconstrução porque o que se dá na sociedade estadunidense, neste período, é um retorno às formas tradicionais de vida, abaladas pela Grande Guerra. O antigo sonho americano passa a ser apresentado ao mundo como o “American way of life”(1), dessa vez aparado pelos avanços tecnológicos, sobretudo de eletrodomésticos, automóveis e cosméticos, que o capitalismo podia oferecer. Tratava-se do triunfo da modernidade aliado aos valores morais burgueses tradicionais.
Um exemplo claro dessa afirmação se encontra na vida feminina deste período. Se num primeiro momento, o da Grande Guerra, essas mulheres apoiavam os seus esposos participando ativamente da defesa de seus países, durante os anos dourados, haverá o retrocesso ao comportamento feminino. A mulher deveria ser bela e bem cuidada, casar-se cedo, possuir filhos, ser uma boa mãe, saber cuidar de seu lar, enfim, percebe-se um retorno ao que antes era concebido como papel fundamental da mulher. É claro que isso não surge como uma medida imposta. O que se vivia era o conforto do fim da Guerra.
O período de opressão e tensão que o ambiente em guerra trazia havia se desmanchado diante da sociedade estadunidense. Não há mais a ameaça direta da invasão nazista, ou o temor do eixo do mal. Vive-se um novo período. Talvez pior, por conta de essa tensão não conseguir se expressar explicitamente.
Daí denominarmos esse instante como “Guerra Fria”. A guerra estava em mostrar ao mundo qual o melhor estilo de vida: o capitalista ou o socialista. Nesse aspecto, o ideal de conforto que o capitalismo e a sociedade de consumo esbanjavam era potencializado ao máximo. Surgem para essas mulheres o aspirador de pó, a máquina de lavar, tudo para facilitar a vida dessas novas mulheres, e a sua aparente felicidade. E para sustentar e gerar o consumismo dessa sociedade.
Chama-se de “Anos dourados” o período que focaliza essa análise. Seu início se dá no fim da 2ª Guerra Mundial e perpassa boa parte do período da Guerra Fria. Conceitualmente, é caracterizada por representar uma vitrine da boa vida diante do mundo atrasado e vermelho da União Soviética. É um retorno a um período de estabilidade, onde a tradição volta a ser aplicada. Focalizando nosso estudo no espaço estadunidense, percebemos a (re)construção do “American Dream”. Reconstrução porque o que se dá na sociedade estadunidense, neste período, é um retorno às formas tradicionais de vida, abaladas pela Grande Guerra. O antigo sonho americano passa a ser apresentado ao mundo como o “American way of life”(1), dessa vez aparado pelos avanços tecnológicos, sobretudo de eletrodomésticos, automóveis e cosméticos, que o capitalismo podia oferecer. Tratava-se do triunfo da modernidade aliado aos valores morais burgueses tradicionais.
Um exemplo claro dessa afirmação se encontra na vida feminina deste período. Se num primeiro momento, o da Grande Guerra, essas mulheres apoiavam os seus esposos participando ativamente da defesa de seus países, durante os anos dourados, haverá o retrocesso ao comportamento feminino. A mulher deveria ser bela e bem cuidada, casar-se cedo, possuir filhos, ser uma boa mãe, saber cuidar de seu lar, enfim, percebe-se um retorno ao que antes era concebido como papel fundamental da mulher. É claro que isso não surge como uma medida imposta. O que se vivia era o conforto do fim da Guerra.
O período de opressão e tensão que o ambiente em guerra trazia havia se desmanchado diante da sociedade estadunidense. Não há mais a ameaça direta da invasão nazista, ou o temor do eixo do mal. Vive-se um novo período. Talvez pior, por conta de essa tensão não conseguir se expressar explicitamente.
Daí denominarmos esse instante como “Guerra Fria”. A guerra estava em mostrar ao mundo qual o melhor estilo de vida: o capitalista ou o socialista. Nesse aspecto, o ideal de conforto que o capitalismo e a sociedade de consumo esbanjavam era potencializado ao máximo. Surgem para essas mulheres o aspirador de pó, a máquina de lavar, tudo para facilitar a vida dessas novas mulheres, e a sua aparente felicidade. E para sustentar e gerar o consumismo dessa sociedade.
GARCIA, Claudia. Almanaque da Folha. Anos 50. 2000.
A própria vestimenta é influenciada por esse novo ideário de vida. Com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50, no início da década se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo "New Look", de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias.
Essa silhueta extremamente feminina e jovial atravessou toda a década de 50 e se manteve como base para a maioria das criações desse período. Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra, nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o "New Look" Dior, o que indica que a mulher do início da década ansiava pela volta da feminilidade, do luxo e da sofisticação estimulada pela televisão que vendia a idéia do glamour pelo consumo. E foi mesmo Christian Dior quem liderou, até a sua morte em 1957, a agitação de novas tendências que foram surgindo quase a cada estação.
Essa silhueta extremamente feminina e jovial atravessou toda a década de 50 e se manteve como base para a maioria das criações desse período. Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra, nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o "New Look" Dior, o que indica que a mulher do início da década ansiava pela volta da feminilidade, do luxo e da sofisticação estimulada pela televisão que vendia a idéia do glamour pelo consumo. E foi mesmo Christian Dior quem liderou, até a sua morte em 1957, a agitação de novas tendências que foram surgindo quase a cada estação.
GARCIA, Claudia. Almanaque da Folha. Anos 50. 2000.
Com o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de grande importância. O clima de sofisticação gerou uma necessidade de cuidar da aparência (alguma semelhança com a atualidade?). A maquiagem estava na moda e valorizava o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos de produtos para os olhos. Grandes empresas, como a Revlon, Helena Rubinstein, Elizabeth Arden e Estée Lauder, gastavam muito em publicidade, era a explosão dos cosméticos. Na Europa, surgiram a Biotherm, em 1952 e a Clarins, em 1954, lançando produtos feitos a base de plantas, que se tornaria uma tendência a partir daí. Era também o auge das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da vida de dois milhões de mulheres - antes eram 500 -, e das loções alisadoras e fixadoras. Os penteados podiam ser coques ou rabos-de-cavalo, como os de Brigitte Bardot. Os cabelos também ficaram um pouco mais curtos, com mechas caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina.
Enfim, essa sociedade do pós-guerra ansiava justamente pelo conforto que a guerra, de fato, havia tirado. Porém, esse relativo conforto teria em paralelo a construção das contestações da juventude. Nesse ponto reside a rebeldia dessa juventude: quando ela contesta valores tidos como absolutos, mesmo que participe do ambiente de construção deles.
Moda: o contraponto do visual rebelde com o glamour da alta costura
Como já vimos brevemente, a construção do ideário de vida perfeita estadunidense foi feita principalmente no mundo da moda. Inicialmente, a alta costura ganha força, quando se busca viver a bonança de um novo período.
O mundo econômico permitia essa construção. Afinal, desde o final da guerra, os Estados Unidos já se lançavam como potência hegemônica na sociedade capitalista ocidental, sendo o único representante e defensor da aparente liberdade que esse regime apresenta (novamente, alguma relação com a sociedade de hoje?). Essa hegemonia, inclusive, encontrava-se no mundo militar. Lembremos que as bombas nucleares foram lançadas pelos estadunidenses e mostravam a força militar desse jovem país em crescimento.
Nesse aspecto, a sociedade poderia utilizar todos os meios para fazer valer a sua máxima de que se vivia em uma sociedade feliz. A juventude estava nessa sociedade também. Ela também, inicialmente, vai propagar a felicidade pelo consumo. A mudança, pelo menos, no mundo da Moda, pode ser enxergado quando a massificação imposta pela indústria tenta abarcar essa aparente feliz sociedade.
É necessário entender que a construção do tradicional se dá em paralelo com os movimentos de inocente rebeldia desses jovens. Inocente porque, aparentemente, não havia uma utopia a ser seguida. A luta era pela identidade, pela liberdade de expressão, e sendo os jovens, talvez, a camada mais sensível da sociedade e mais enérgica, eles vão, ao longo da década, contestar a própria educação que tinham.
No ideário de beleza, o cinema teve grande participação. Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos 50: o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, caracterizado pela naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e fatal, do qual as atrizes Rita Hayworth, Ava Gardner e as pin-ups estadunidenses, loiras e com seios fartos, são ótimos exemplos. Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza da década de 50 foram Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos - a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade.
Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes da criação de moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga - considerado o grande mestre da alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre Balmain, Chanel, Madame Grès, Nina Ricci e o próprio Christian Dior, transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas.
Ao lado do sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam avançando na direção do ready-to-wear e da confecção. A indústria estadunidense desse setor estava cada vez mais forte, com as técnicas de produção em massa cada vez mais bem desenvolvidas e especializadas. A juventude rebelde adere ao ready-to-wear fazendo uma contraposição à alta costura e ao glamour e consequentemente, ao tradicionalismo.
Essa nova tendência estender-se-ia à Europa e logo o prêt-à-porter nos ateliês dos estilistas começaria a se desenvolver em contraponto à haute couture – que por sua vez não conseguiria manter a mesma abrangência e predominância que obtivera outrora em face a era industrial de confecção, se restringindo a atender uma reduzida elite conservadora que podia bancar os altos preços das roupas sob medida em nome do prestígio e da tradição. Na Inglaterra, por exemplo, empresas como Jaeger, Susan Small e Dereta produziam roupas prêt-à-porter sofisticadas. Na Itália, Emilio Pucci produzia peças separadas em cores fortes e estampadas que faziam sucesso tanto na Europa como nos EUA. Na França, Jacques Fath foi um dos primeiros a se voltar ao prêt-à-porter, ainda em 1948, e logo outros estilistas começaram a acompanhar essa nova tendência, à medida que a alta-costura começou a perder terreno, já no final dos anos 50.
Nessa época, pela primeira vez, as pessoas comuns puderam ter acesso às criações da moda sintonizada com as tendências do momento. A própria corrida espacial e o termo “modernidade” passam a ser utilizados no imaginário social e na construção da moda. A arquitetura também é influenciada por esse novo estilo, assim como o design de carros. O tradicionalismo, antes instaurado pela antiga sociedade do pós-guerra, converte-se numa crescente modernidade nesse período. Dessa forma, a juventude passa a fazer parte de uma relativa massificação, mas não sem buscar sua própria identidade.
Ora, a indústria do jeans passava a crescer. Nesse sentido, a juventude se via massificada mesmo, num primeiro momento. Todos usariam um mesmo estilo de roupa. Porém, é justamente através dessa massificação que se realizará a principal mudança destes jovens. Assim, é a partir desse momento de massificação que o ideário rebelde passa a ser construído. A busca é pela identidade que se pode criar através dessa massificação. A moda começa a ser construída, nesse ponto, como representação individual do jovem rebelde.
O cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme "Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans. Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da juventude rebelde que na época da alta costura lança um visual mais “largado” como contestação do que lhes era imposto. Já na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo, coloridos e vistosos, além de um topete enrolado. Eram os "teddy-boys”.
Enfim, essa sociedade do pós-guerra ansiava justamente pelo conforto que a guerra, de fato, havia tirado. Porém, esse relativo conforto teria em paralelo a construção das contestações da juventude. Nesse ponto reside a rebeldia dessa juventude: quando ela contesta valores tidos como absolutos, mesmo que participe do ambiente de construção deles.
Moda: o contraponto do visual rebelde com o glamour da alta costura
Como já vimos brevemente, a construção do ideário de vida perfeita estadunidense foi feita principalmente no mundo da moda. Inicialmente, a alta costura ganha força, quando se busca viver a bonança de um novo período.
O mundo econômico permitia essa construção. Afinal, desde o final da guerra, os Estados Unidos já se lançavam como potência hegemônica na sociedade capitalista ocidental, sendo o único representante e defensor da aparente liberdade que esse regime apresenta (novamente, alguma relação com a sociedade de hoje?). Essa hegemonia, inclusive, encontrava-se no mundo militar. Lembremos que as bombas nucleares foram lançadas pelos estadunidenses e mostravam a força militar desse jovem país em crescimento.
Nesse aspecto, a sociedade poderia utilizar todos os meios para fazer valer a sua máxima de que se vivia em uma sociedade feliz. A juventude estava nessa sociedade também. Ela também, inicialmente, vai propagar a felicidade pelo consumo. A mudança, pelo menos, no mundo da Moda, pode ser enxergado quando a massificação imposta pela indústria tenta abarcar essa aparente feliz sociedade.
É necessário entender que a construção do tradicional se dá em paralelo com os movimentos de inocente rebeldia desses jovens. Inocente porque, aparentemente, não havia uma utopia a ser seguida. A luta era pela identidade, pela liberdade de expressão, e sendo os jovens, talvez, a camada mais sensível da sociedade e mais enérgica, eles vão, ao longo da década, contestar a própria educação que tinham.
No ideário de beleza, o cinema teve grande participação. Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos 50: o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, caracterizado pela naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e fatal, do qual as atrizes Rita Hayworth, Ava Gardner e as pin-ups estadunidenses, loiras e com seios fartos, são ótimos exemplos. Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza da década de 50 foram Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos - a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade.
Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes da criação de moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga - considerado o grande mestre da alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre Balmain, Chanel, Madame Grès, Nina Ricci e o próprio Christian Dior, transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas.
Ao lado do sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam avançando na direção do ready-to-wear e da confecção. A indústria estadunidense desse setor estava cada vez mais forte, com as técnicas de produção em massa cada vez mais bem desenvolvidas e especializadas. A juventude rebelde adere ao ready-to-wear fazendo uma contraposição à alta costura e ao glamour e consequentemente, ao tradicionalismo.
Essa nova tendência estender-se-ia à Europa e logo o prêt-à-porter nos ateliês dos estilistas começaria a se desenvolver em contraponto à haute couture – que por sua vez não conseguiria manter a mesma abrangência e predominância que obtivera outrora em face a era industrial de confecção, se restringindo a atender uma reduzida elite conservadora que podia bancar os altos preços das roupas sob medida em nome do prestígio e da tradição. Na Inglaterra, por exemplo, empresas como Jaeger, Susan Small e Dereta produziam roupas prêt-à-porter sofisticadas. Na Itália, Emilio Pucci produzia peças separadas em cores fortes e estampadas que faziam sucesso tanto na Europa como nos EUA. Na França, Jacques Fath foi um dos primeiros a se voltar ao prêt-à-porter, ainda em 1948, e logo outros estilistas começaram a acompanhar essa nova tendência, à medida que a alta-costura começou a perder terreno, já no final dos anos 50.
Nessa época, pela primeira vez, as pessoas comuns puderam ter acesso às criações da moda sintonizada com as tendências do momento. A própria corrida espacial e o termo “modernidade” passam a ser utilizados no imaginário social e na construção da moda. A arquitetura também é influenciada por esse novo estilo, assim como o design de carros. O tradicionalismo, antes instaurado pela antiga sociedade do pós-guerra, converte-se numa crescente modernidade nesse período. Dessa forma, a juventude passa a fazer parte de uma relativa massificação, mas não sem buscar sua própria identidade.
Ora, a indústria do jeans passava a crescer. Nesse sentido, a juventude se via massificada mesmo, num primeiro momento. Todos usariam um mesmo estilo de roupa. Porém, é justamente através dessa massificação que se realizará a principal mudança destes jovens. Assim, é a partir desse momento de massificação que o ideário rebelde passa a ser construído. A busca é pela identidade que se pode criar através dessa massificação. A moda começa a ser construída, nesse ponto, como representação individual do jovem rebelde.
O cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme "Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans. Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da juventude rebelde que na época da alta costura lança um visual mais “largado” como contestação do que lhes era imposto. Já na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo, coloridos e vistosos, além de um topete enrolado. Eram os "teddy-boys”.
James Dean em “Rebel without a case” de 1955.
MARTINETTI, Ronald. Biografia James Dean. Nova Fronteira. 1996
MARTINETTI, Ronald. Biografia James Dean. Nova Fronteira. 1996
A partir desses apontamentos, percebe-se que a rebeldia dessa juventude estava principalmente na necessidade de se justificar. Na necessidade de encontrar um caráter em si, de se identificar consigo e não com o que os obrigavam a ser. A relação no mundo da Moda, entendido aqui como fonte de análise, nos revela uma realidade bastante peculiar. É no aproveitamento e na rearticulação do tradicionalismo que se encontra a rebeldia. Afinal, essa rebeldia e seus símbolos são resultados diretos do mundo capitalista emergindo nessa sociedade. Essa nova relação, no espaço do imaginário da moda, cresce e amplia seus, até atingir, em 1960, a Europa, quando passa a contestar uma série de valores. Tal contestação generalizada culminou no movimento rebelde estudantil de 1968.
Cinema: somente no final da década iniciou-se o movimento de revolução e renovação
A rebeldia que se revela nos anos 50 é uma rebeldia ainda ingênua, que se revelava no cinema, por exemplo, com o filme “Juventude Transviada”, o qual conta a história de Jim Starks, um rapaz de 17 anos que se sente incompreendido pelos pais e segue o caminho da arruaça. Apesar de ter o título inspirado em um livro de Psicologia (Rebel without a cause: the Hypnoanalysis of a Criminal Psycopath, de Robert Linder), o filme não ficou famoso pela sua capacidade de análise antropológica, mas sim pela criação de identidades, mitos e modelos de uma juventude que começava a sair da esfera de uma moral rígida.
O movimento juvenil de rebeldia que ganha força na segunda metade dos anos 50 se manifesta no cinema somente no final da década, influenciado pelo início de uma instabilidade política após mais uma década de estabilidade e crescimento econômico das principais potências imperialistas mundiais. O ano de 1959, quando eclode a Revolução Cubana, é também o ano que marca a reabertura da crise capitalista. Essa crise se refletiria nos mais diversos setores da cultura dos principais países do globo.
Na França surgia no final da década de 1950, uma forte reação cultural ao otimismo superficial e a mentalidade conservadora que dominava a sociedade de então. Movimentos como o existencialismo de Sartre, na filosofia; o abstracionismo informal, na pintura e o nouveau roman na literatura, eram manifestações desta crise. No cinema, a principal expressão francesa desta reação é o movimento heterogêneo conhecido como nouvelle vague (a nova onda), que agrupou cineastas das mais diversas tendências, mas que se identificavam com uma idéia em comum: a de que o cinema tal qual se apresentava em sua época precisava ser radicalmente repensado.A linha de frente deste movimento de renovação formava-se pelos críticos de cinema Bazin, Chabrol, Truffaut, Godard, Demis, Rivette, Rohmer e Resnais.
Filmes como “Os Incompreendidos” de Truffaut e “Acossado” de Godard foram centrais para esse movimento, que durou de 1959 até pouco antes da Revolução Estudantil de 1968 – momento diretamente influenciado pela Nouvelle Vague. Amigos inseparáveis, Godard e Truffaut batalharam intensamente contra a mediocridade francesa do pós-guerra, seus filmes inauguraram um novo pensar. A cultura francesa tão rica outrora vinha se desfacelando, e os críticos/cineastas impuseram através dos seus filmes essa nova abordagem para capturar o diálogo arte/espectador que parecia ter se perdido durante os anos trágicos da guerra.
Literatura: o feminismo de Simone de Beauvoir
A década de 50 nos Estados Unidos é marcada pela imagem da mulher dona de casa, que casa cedo e tem filhos. Boa esposa e mãe, essa mulher tinha como principal atividade os afazeres da casa e se encantava com a infinidade de novos eletrodomésticos que vinham surgindo para facilitar o seu trabalho.
No entanto, o movimento rebelde da década de 50 faz ressurgir o feminismo.
A principal responsável por esse novo vigor do movimento feminista foi a intelectual francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) que manteve um relacionamento de 50 anos com Jean-Paul Sartre e que em 1949 publica o livro “O segundo Sexo”.
Quando surgiu, em 1949, “O Segundo Sexo” causou tanta admiração quanto estranheza. Era uma obra vasta, dividida em dois volumes, bem documentada e alicerçada na lógica e no conhecimento muito pouco estudado da mente “feminina”. Tendo como missão pôr a nu a condição feminina, explorava áreas ligadas à situação da mulher no mundo, englobando história, filosofia, economia, biologia, etc., bem como alguns “case studies” e algumas experiências particulares. Simone queria demonstrar que a própria noção de feminilidade era uma ficção inventada pelos homens na qual as mulheres consentiam, fosse por estarem pouco treinadas nos rigores do pensamento lógico ou porque calculavam ganhar algo com a sua passividade, perante as fantasias masculinas. No entanto, ao fazê-lo cairiam na armadilha de se auto limitarem. Os homens chamaram a si os terrores e triunfos da transcendência, oferecendo às mulheres segurança e tentando-as com as teorias da aceitação e da dependência, mentindo-lhes ao dizer que tais são características inatas do seu caráter. 3
Ao fugir a este determinismo, Simone abriu as portas a todas as mulheres no sentido de formarem o seu próprio ser e escolherem o seu próprio destino, libertando-se de todas as idéias pré-concebidas e dos mitos pré-estabelecidos que lhe dão pouca ou nenhuma hipótese de escolha. Assim, a mulher, qualquer mulher, deve criar a sua própria vida, mesmo que seja a de cumprir um papel tradicional, se for esse o escolhido por ela e só por ela.
Em uma sociedade ainda sob o choque das profundas alterações provocadas pela Guerra, a posição das mulheres tinha-se fortalecido pela ausência dos homens, mortos, desaparecidos ou ausentes. Mas Simone lançava um alerta dizendo: “… a Idade de Ouro da mulher não passa de um mito… A sociedade sempre foi masculina e o poder político sempre esteve nas mãos dos homens.”. “A humanidade é masculina” observou ela “… e um homem não teria a idéia de escrever um livro sobre a situação peculiar de ser macho… e nunca se preocupa em afirmar a sua identidade como um ser de um determinado gênero; o fato de ser um homem é óbvio” 2. É importante colocar como ponto de partida para o estudo de “O Segundo Sexo” e do resto da obra de Simone de Beauvoir, o fato que ela, apesar de reconhecer que os homens oprimem as mulheres, não deixa de lhes apreciar as capacidades.
As idéias da escritora vieram de encontro à imagem de mulher difundida pelo tradicionalismo do início da década e colaborou para a tomada de consciência de uma juventude que estava dando os primeiros passos para a revolução sessentista.
Música: Elvis e o rock and roll
O rock and roll surge nos Estados Unidos da América no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes em sua maioria em gêneros musicais afro-americanos, e rapidamente se espalha para o resto do mundo.
A juventude dos anos dourados adotou o rock and roll como estilo musical e elegeu grandes ídolos como, por exemplo, o maior deles, Elvis Presley. A nova música com um contratempo acentuado e um ritmo dançante afirmava ainda mais essa rebeldia surgida na década e trazia uma atitude mais revolucionária. Era uma música rebelde para uma juventude rebelde.
Elvis Presley se tornou um dos maiores ídolos da juventude, sendo mundialmente denominado como o Rei do Rock. Em 1956, Elvis tornou-se uma sensação internacional. Com um som e estilo que, uníssonos, sintetizavam suas diversas influências, ameaçavam a sociedade conservadora e repressiva da época e desafiavam os preconceitos múltiplos daqueles idos, Elvis fundou uma nova era e estética em música e cultura populares, consideradas, hoje, "cults" e primordiais, mundialmente.
Cinema: somente no final da década iniciou-se o movimento de revolução e renovação
A rebeldia que se revela nos anos 50 é uma rebeldia ainda ingênua, que se revelava no cinema, por exemplo, com o filme “Juventude Transviada”, o qual conta a história de Jim Starks, um rapaz de 17 anos que se sente incompreendido pelos pais e segue o caminho da arruaça. Apesar de ter o título inspirado em um livro de Psicologia (Rebel without a cause: the Hypnoanalysis of a Criminal Psycopath, de Robert Linder), o filme não ficou famoso pela sua capacidade de análise antropológica, mas sim pela criação de identidades, mitos e modelos de uma juventude que começava a sair da esfera de uma moral rígida.
O movimento juvenil de rebeldia que ganha força na segunda metade dos anos 50 se manifesta no cinema somente no final da década, influenciado pelo início de uma instabilidade política após mais uma década de estabilidade e crescimento econômico das principais potências imperialistas mundiais. O ano de 1959, quando eclode a Revolução Cubana, é também o ano que marca a reabertura da crise capitalista. Essa crise se refletiria nos mais diversos setores da cultura dos principais países do globo.
Na França surgia no final da década de 1950, uma forte reação cultural ao otimismo superficial e a mentalidade conservadora que dominava a sociedade de então. Movimentos como o existencialismo de Sartre, na filosofia; o abstracionismo informal, na pintura e o nouveau roman na literatura, eram manifestações desta crise. No cinema, a principal expressão francesa desta reação é o movimento heterogêneo conhecido como nouvelle vague (a nova onda), que agrupou cineastas das mais diversas tendências, mas que se identificavam com uma idéia em comum: a de que o cinema tal qual se apresentava em sua época precisava ser radicalmente repensado.A linha de frente deste movimento de renovação formava-se pelos críticos de cinema Bazin, Chabrol, Truffaut, Godard, Demis, Rivette, Rohmer e Resnais.
Filmes como “Os Incompreendidos” de Truffaut e “Acossado” de Godard foram centrais para esse movimento, que durou de 1959 até pouco antes da Revolução Estudantil de 1968 – momento diretamente influenciado pela Nouvelle Vague. Amigos inseparáveis, Godard e Truffaut batalharam intensamente contra a mediocridade francesa do pós-guerra, seus filmes inauguraram um novo pensar. A cultura francesa tão rica outrora vinha se desfacelando, e os críticos/cineastas impuseram através dos seus filmes essa nova abordagem para capturar o diálogo arte/espectador que parecia ter se perdido durante os anos trágicos da guerra.
Literatura: o feminismo de Simone de Beauvoir
A década de 50 nos Estados Unidos é marcada pela imagem da mulher dona de casa, que casa cedo e tem filhos. Boa esposa e mãe, essa mulher tinha como principal atividade os afazeres da casa e se encantava com a infinidade de novos eletrodomésticos que vinham surgindo para facilitar o seu trabalho.
No entanto, o movimento rebelde da década de 50 faz ressurgir o feminismo.
A principal responsável por esse novo vigor do movimento feminista foi a intelectual francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) que manteve um relacionamento de 50 anos com Jean-Paul Sartre e que em 1949 publica o livro “O segundo Sexo”.
Quando surgiu, em 1949, “O Segundo Sexo” causou tanta admiração quanto estranheza. Era uma obra vasta, dividida em dois volumes, bem documentada e alicerçada na lógica e no conhecimento muito pouco estudado da mente “feminina”. Tendo como missão pôr a nu a condição feminina, explorava áreas ligadas à situação da mulher no mundo, englobando história, filosofia, economia, biologia, etc., bem como alguns “case studies” e algumas experiências particulares. Simone queria demonstrar que a própria noção de feminilidade era uma ficção inventada pelos homens na qual as mulheres consentiam, fosse por estarem pouco treinadas nos rigores do pensamento lógico ou porque calculavam ganhar algo com a sua passividade, perante as fantasias masculinas. No entanto, ao fazê-lo cairiam na armadilha de se auto limitarem. Os homens chamaram a si os terrores e triunfos da transcendência, oferecendo às mulheres segurança e tentando-as com as teorias da aceitação e da dependência, mentindo-lhes ao dizer que tais são características inatas do seu caráter. 3
Ao fugir a este determinismo, Simone abriu as portas a todas as mulheres no sentido de formarem o seu próprio ser e escolherem o seu próprio destino, libertando-se de todas as idéias pré-concebidas e dos mitos pré-estabelecidos que lhe dão pouca ou nenhuma hipótese de escolha. Assim, a mulher, qualquer mulher, deve criar a sua própria vida, mesmo que seja a de cumprir um papel tradicional, se for esse o escolhido por ela e só por ela.
Em uma sociedade ainda sob o choque das profundas alterações provocadas pela Guerra, a posição das mulheres tinha-se fortalecido pela ausência dos homens, mortos, desaparecidos ou ausentes. Mas Simone lançava um alerta dizendo: “… a Idade de Ouro da mulher não passa de um mito… A sociedade sempre foi masculina e o poder político sempre esteve nas mãos dos homens.”. “A humanidade é masculina” observou ela “… e um homem não teria a idéia de escrever um livro sobre a situação peculiar de ser macho… e nunca se preocupa em afirmar a sua identidade como um ser de um determinado gênero; o fato de ser um homem é óbvio” 2. É importante colocar como ponto de partida para o estudo de “O Segundo Sexo” e do resto da obra de Simone de Beauvoir, o fato que ela, apesar de reconhecer que os homens oprimem as mulheres, não deixa de lhes apreciar as capacidades.
As idéias da escritora vieram de encontro à imagem de mulher difundida pelo tradicionalismo do início da década e colaborou para a tomada de consciência de uma juventude que estava dando os primeiros passos para a revolução sessentista.
Música: Elvis e o rock and roll
O rock and roll surge nos Estados Unidos da América no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes em sua maioria em gêneros musicais afro-americanos, e rapidamente se espalha para o resto do mundo.
A juventude dos anos dourados adotou o rock and roll como estilo musical e elegeu grandes ídolos como, por exemplo, o maior deles, Elvis Presley. A nova música com um contratempo acentuado e um ritmo dançante afirmava ainda mais essa rebeldia surgida na década e trazia uma atitude mais revolucionária. Era uma música rebelde para uma juventude rebelde.
Elvis Presley se tornou um dos maiores ídolos da juventude, sendo mundialmente denominado como o Rei do Rock. Em 1956, Elvis tornou-se uma sensação internacional. Com um som e estilo que, uníssonos, sintetizavam suas diversas influências, ameaçavam a sociedade conservadora e repressiva da época e desafiavam os preconceitos múltiplos daqueles idos, Elvis fundou uma nova era e estética em música e cultura populares, consideradas, hoje, "cults" e primordiais, mundialmente.
Elvis Presley
Miziara, Ana Flávia. Elvis Presley. São Paulo: Roka, 1996.
Miziara, Ana Flávia. Elvis Presley. São Paulo: Roka, 1996.
Suas canções e álbuns transformaram-se em enormes sucessos e alavancaram vendas recordes em todo o mundo. Elvis tornou-se o primeiro "mega star" da música popular, inclusive em termos de marketing. Muitos postulam que essa revolução chamada rock, da qual Elvis foi emblemático, teria sido a última grande revolução cultural do século XX, já que as bandas, cantores e compositores que surgiram nas décadas seguintes - e que fizeram muito sucesso - foram influenciados, direta ou indiretamente por Elvis.
Uma rápida conclusão desse estudo nos remete ao problema de se identificar uma rebeldia nesse momento de transição – o do tradicionalismo a uma juventude rebelde dos anos 60. Tentamos provar nesse texto a existência dessa rebeldia. O que poderia resumir a rebeldia desses jovens é a busca por identidades. Se, por um lado, eles sofrem todas as conseqüências do retorno do tradicionalismo, da Guerra Fria e do ideário dos anos dourados; essa mesma juventude vai utilizar-se dessas armas para mostrarem ao mundo os seus anseios por identidade. Logo, a construção da rebeldia reside nessa busca por identidade através de meios altamente tradicionais. O paralelismo entre juventude e tradicionalismo é tão forte que, num primeiro momento, não enxergamos essas diferenças. Porém, se não houvesse tamanha busca por identificação, Elvis Presley não seria o rei do Rock, tampouco James Dean conservar-se-ia em nosso imaginário desde a sua morte. Como foi já dito, a juventude dessa década não elaborou seus planos utópicos; todavia, será na década seguinte que ela amadurecerá e encontrará sua voz política contestadora.
Nota
(1) Traduzem-se: “American Dream” – Sonho americano; e “American way of of life” – Estilo americano de vida.
Uma rápida conclusão desse estudo nos remete ao problema de se identificar uma rebeldia nesse momento de transição – o do tradicionalismo a uma juventude rebelde dos anos 60. Tentamos provar nesse texto a existência dessa rebeldia. O que poderia resumir a rebeldia desses jovens é a busca por identidades. Se, por um lado, eles sofrem todas as conseqüências do retorno do tradicionalismo, da Guerra Fria e do ideário dos anos dourados; essa mesma juventude vai utilizar-se dessas armas para mostrarem ao mundo os seus anseios por identidade. Logo, a construção da rebeldia reside nessa busca por identidade através de meios altamente tradicionais. O paralelismo entre juventude e tradicionalismo é tão forte que, num primeiro momento, não enxergamos essas diferenças. Porém, se não houvesse tamanha busca por identificação, Elvis Presley não seria o rei do Rock, tampouco James Dean conservar-se-ia em nosso imaginário desde a sua morte. Como foi já dito, a juventude dessa década não elaborou seus planos utópicos; todavia, será na década seguinte que ela amadurecerá e encontrará sua voz política contestadora.
Nota
(1) Traduzem-se: “American Dream” – Sonho americano; e “American way of of life” – Estilo americano de vida.